quinta-feira, 23 de setembro de 2010

RADIOAMADOR: CURIOSIDADES E BELEZA DESTE PASSATEMPO






*****Exactamente como me aconteceu a semana passada, revendo e dando uma nova ordem ao que considero os meus “tesouros”, desta vez a atenção perdeu-se nas centenas de cartões de QSL, recebidos de todas as partes do Mundo e das mais variadas personagens com a mesma paixão: o radioamadorismo.

Como consequência, em vez de encaminhar-me para “conversas” sobre assuntos que fazem reflectir, preferi deixar-me seduzir pelas relembranças. E sendo assim…

Chama-se QSL o cartão a que eu chamaria “bilhete de identidade” de um radioamador.
Sempre que, pela primeira vez, contactamos um colega procedemos ao envio do nosso cartão pessoal (QSL), confirmando a data, hora e condições de transmissão desse contacto (QSO). O envio pode ser directo ou através das nossas respectivas associações.

Todos os países concedem diplomas, mediante certas condições e sempre baseadas na confirmação dos contactos entre radioamadores dos vários países, de recantos longínquos, de ilhas perdidas nos Oceanos; contactos estes que se comprovam com os cartões recebidos, obviamente.

A obtenção desses diplomas – desde os mais acessíveis aos mais difíceis - são os nossos troféus, as nossas coroas de glória.

Neste momento, olho a parede que me está à esquerda e vejo os troféus mais importantes - sejam perdoadas a vaidade e gabarolice!
Estão ali as provas dos contactos com todo o Pacífico, toda a África, toda a Ásia, toda a Europa, todos os States da América, a Antárctida, Commonwealth, o Mediterrâneo, diplomas russos, “Diplome d’Excellence de l’Union Française”, todos os Continentes, etc., etc., etc.

Não quero esquecer o pior de todos, pelo menos para mim: contactar as 40 zonas em que dividiram os cinco continentes e oceanos e em cada uma das cinco bandas de radiofrequência concedidas aos radioamadores: 5 Band WAZ, diploma conferido pela “revista CQ (The Radio Amateur's Journal) - diploma n.º 28, 13 Agosto 1980. *
Não menos precioso uma placa, muito bonita, sempre concedida pela associação americana, premiando o contacto com não menos de cem países e sempre em cada uma das cinco bandas: 5 B DXCC: placa n.º 1018, 7 Abril 1981.

Relativamente ao modo de operarmos, é interessante e provoca sempre uma sensação agradabilíssima, lançarmos uma chamada geral e responderem-nos dos mais inesperados pontos da terra. Aliás, já aqui me expressei sobre esta faceta.
Ou, então, surgir uma chamada, na frequência onde transmitimos, de quem menos esperaríamos.

O cartão acima reproduzido (o reverso) é do rei Hussein da Jordânia. Naquele período, era o único e sumo radioamador daquele país. Logo, uma raridade e, dada a importância da personagem, uma preciosidade duplamente desejada.

Um dia, ao fim da tarde, fazia provas de um microfone que me parecia defeituoso, identificando-me. A um certo momento, ouvi que me chamavam: I1YG. Como havia interferências (QRM), não compreendi bem o indicativo de quem me chamava e respondi, convencida que se tratava de uma estação alemã.
Todos os países têm o seu próprio prefixo. O de Portugal, por exemplo, é CT; da Itália, I1/2/3, etc. Cada radioamador tem o sufixo que o identifica.

Iniciei com os preliminares usuais: o meu nome, localidade (QTH), tabela das condições de escuta da estação com quem falava, e por aí adiante. Passei o microfone ao meu correspondente.

Resposta da outra parte: Here is JY1 (um rei não necessita de sufixo!). My name is Hussein, my QTH Hamman, Jordan. Recordo que acentuou bem a localidade: Amman.

A este ponto dei um salto na cadeira! Tudo esperaria, menos que o falecido rei Hussein chamasse I1YG, quando havia centenas de radioamadores, dotados de potentíssimas aparelhagens, que o não deixavam em paz, sempre que assomava às radiofrequências amadorísticas e tornava-se dificílimo contactá-lo.

Imediatamente lhe enviei o meu cartão via directa. Respondeu-me, também directamente, escrevendo no próprio cartão frases muito gentis.
Repito, cartão duplamente apreciado e estimado.

Mas não ficamos por aqui com as “altezas reais”.
Depois de vários contactos com a Malásia, não havia forma de receber qualquer confirmação daquele país. Contactei uma nova estação, cujo indicativo era 9M2TR. Aproveitai para lamentar a falta de correcção dos radioamadores malaios, pois tinham o péssimo costume e má educação de não confirmar os contactos.

O senhor convidou-me a enviar-lhe o meu cartão directamente. Assim fiz.
Foi rapidíssimo na resposta, com muitos 73’s e um 88 (tradução: 73 significa cumprimentos; 88, para as senhoras, um beijo).
Nome do radioamador: Sua Alteza Tunku A. Rahman. Seguem-se umas iniciais, pouco claras, que não sei interpretar
Ri-me divertida pelo meu directo protesto, nada suave, contra os colegas seus compatriotas e talvez súbditos. Mas não se ofendeu.

Recordo um outro contacto simpático, conversação muito afável, também com o já sólito coroado, mas da Arábia Saudita. Tratava-se de H. R. H. Prince Jalal Al Saud que operava com o indicativo de HZ1TA.

Mas regressemos à gente comum.
Há uns bons anos atrás, havia poucas senhoras radioamadoras, excepto nos Estados Unidos.

Quando tínhamos oportunidade de encontrar outra colega, estabelecia-se imediatamente uma grande cordialidade.
Um dia chamou-me uma voz, vinda da Inglaterra. Era uma voz que poderia pertnecer a um lindo meio-soprano. Respondi com grande satisfação, manifestando o meu agrado, pois nunca tinha contactado uma senhora inglesa.

Quando a “senhora” radioamadora inglesa tomou o microfone, com um evidente sentido do humor, iniciou deste modo: OK, Alda, my name is Peeeeeter!
E prosseguiu - sem outras referências, pois fora claro - indicando o local donde transmitia e demais temas das normais conversações entre radioamadores.

Enquanto o escutava, cogitava sobre o modo como iria “descalçar a bota” e sair da gafe cometida. Mas que gafe!!
Muito simples: fiz de conta que não houvera gafe nenhuma e retomei a conversa com naturalidade, abdicando de inúteis explicações que só iriam agravar a situação.

Fico-me por aqui. Se continuasse, são tantos os episódios divertidos e curiosos que me assaltam a memória que se torna mesmo necessário pôr-lhes travão.

Como nota final, aproveito para enviar um cordialíssimo 73 a CT1CIR – titular do http://www.dispersamente.blogspot.com/ - e um repenicado 88 à XYL (esposa), Zaida.
Alda M. Maia
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PS *
Já corrigi o erro, acima indicado com um asterisco. Os diplomas Waz e 5BWAZ são concedidos pela revista CQ - The Radio Amateur's Journal e não pela American Radio Relay League, como incorrectamente escrevera.
Um lapso imperdoável, pois o diploma está ali encaixilhado e bem visível.

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